sexta-feira, 13 de maio de 2011

Como é ilógico esse tal preconceito

Estava voltando para casa depois da aula ontem, o ônibus estava meio cheio, daí abriu um lugar para sentar e eu fui até lá. Eu ia até lá. Antes que eu pudesse chegar à cadeira um outro homem já o ocupava. A primeira coisa que me veio à cabeça foi algo que envolvia a mãe dele e que não convém ser publicado, mas depois eu percebi que aquele homem tratava-se de um portador da Síndrome de Down e confesso, envergonhado, tive pena e achei que fazia uma boa ação.

Uma parada depois eu consegui me sentar no banco atrás do daquele homem e percebi que ele conversava com a mulher sentada ao seu lado. Mais duas paradas e eu já participava da conversa. Era fácil notar os primeiros fios de cabelo branco no contraste com o curto cabelo negro e as grossas sobrancelhas que, curiosamente, eram o que mais prendia minha atenção.

O que será que um portador de Down poderia estar conversando com dois estranhos no ônibus? Talvez eu mesmo fizesse essa pergunta antes desse episódio, pois saiba que foi aí que minha visão daquele momento mudou completamente. O homem dizia que estava estudando em uma escola que há perto da casa dele aqui mesmo em João Pessoa, disse que passara o dia com a mãe, que não mais lhe acompanhava naquela hora, e que estava indo para casa, pois suas aulas eram à noite.

Orgulhoso do bom trabalho que vinha fazendo, contou-nos que já sabia o abecedário inteiro, um grande progresso, segundo o homem. Também contou, sorrindo, que estava fazendo aula de teatro! Eles estão preparando uma peça que irá se apresentar aqui, em Campina Grande, também na Paraíba e até em Natal! Infelizmente, desci na parada seguinte e não sei o rumo que aquela prosa tomou.

Cheguei a minha casa e me sentei na cama. Sorria. Como eu havia sido ignorante mais cedo na ocasião do assento. Por que eu haveria de sentir pena de um homem tão feliz? De alguém muito mais feliz do que eu! Ele deveria sentir pena de mim, de todos nós, só que este homem sabe muito bem que o dever dele é aproveitar a vida, e o faz.

Só podemos chegar a uma conclusão com essa história. Como é ilógico esse tal preconceito. Seja contra quem for, um livro jamais deverá ser julgado por sua capa e uma pessoa, muito menos, pode ser julgada por sua aparência, por suas crenças, por suas deficiências, por suas escolhas ou por nada que não seja ela mesma.

Este encontro com esse homem, que só aconteceu porque eu havia me atrasado na sala e perdido a hora do meu ônibus de volta para casa, foi uma daquelas gratas surpresas e eu sei que a vocês não puderam ver o que eu vi, mas eu lhes conto, fielmente, e espero que o tapa na cara que eu levei, estada-se a todos vocês que achem que precisem.

7 comentários:

  1. Nada como a experiência... e a reflexão, claro! Bonito, bonito!!!

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  2. "Ele deveria sentir pena de mim, de todos nós, só que este homem sabe muito bem que o dever dele é aproveitar a vida, e o faz." Jamais esquecerei essa frase.

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  3. a gente tem que olhar mais nos olhos, sentir mais as palavras, apesar de recebermos a educação oposta na nossa sociedade. se cada um fizesse sua parte de perceber e sentir mais as pessoas ao redor... gostei! =]

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  4. Marília, você tem toda a razão. Obrigado pelos comentários, amigos =)

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  5. olha só querido. achei errado o jeito com que voce falou sobre a sua 'ignorancia' pois a tratou como uma coisa carregada de negatividade.
    quando na verdade acho que a sua ignorancia é a mesma do que qualquer pessoa mal informada.
    por que, realmente, essa doença (sind down) traz ao seu portador uma deficiencia mental tambem. Explicando o por quê da surpresa quanto a forma normal com que essa pessoa leva sua vida, quando 'deveria' ser o contrario por conta desse problema genético. eu tambem fiquei surpresa quanto a forma com que ele vive mesmo com essa doenca. nao sabia que um portador de Down tinha tantas capacidades. ignorancia minha tambem, mas nao diria um preconceito, sabe...
    e sim uma generalização leiga do tipo de vida, que pessoas como esse homem, levam
    otimo texto. bjs

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  6. Boa noite, amiga. Eu realmente tratei a ignorância como uma coisa negativa, pois é dessa forma mesmo que a vejo, por mais que não seja culpa da massa, ela é culpa de alguém e não é bom para a sociedade -leia-se povo- que a massa seja desinformada. Obrigado pelo comentário e levarei em conta sim suas considerações =)

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